A morte de Michael Jackson me “puxou” um tema que me instiga muito como pessoa, como psicólogo, como criança, como adulto. O que foi feito das nossas crianças internas ?? O que tem sido a vida das crianças ao redor do planeta? As crianças dos seres humanos têm sido abusadas desde o início dos tempos; talvez até por isso uma das frases de Cristo : “Vinde à mim as criancinhas”, ou como dizia o mestre Rajneesh (hoje, Osho): “ As crianças ainda trazem o cheiro de Deus”, me levam a pensar que, é a divindade que tem sido abusada, é a criação no seu mais pleno vigor é que tem sido violentada.
Muitos conhecem a história de Michael Jackson, vindo de uma família pobre de 9 filhos, um pai que gerenciava a carreira dos filhos e as declarações tanto de Michael quanto de Janet, sua irmã, sobre esse pai, acerca de abusos, exigências árduas de performance dos filhos, uma empreitada pelo sucesso, dinheiro e muita fama. E o país de origem e de morada? O outro pai- o Tio Sam- grande “abusador”, o berço do capitalismo, do dinheiro, do show business. Daí percebe-se nessa criança violentada, dessa criança exigida, tirada de si mesma, uma briga de foice com a própria identidade, com a própria negritude, um nariz africano que deveria ser transformado num nariz caucasiano. Um adulto de rosto monstruoso, riquíssimo, famoso e querido em todos os cantos do planeta, que atraía multidões mas a ausência de si mesmo e o vazio interno eram de uma imensidão, proporcionais á sua fama. Uma carência que era um “saco sem fundo”.
Ás vezes, quando morre alguém mais velho, sempre penso nos amigos e contemporâneos dessa pessoa e como deve “mexer” quando se perde um “ colega de época”. Isso agora aconteceu conosco, um contemporâneo se foi....Michael era dois mais novo que eu, ele de 1958, eu de 1956. Um artista irrepreensível, talento transbordante, um corpo dançante e ágil, uma voz linda; “Ben”, cantada por ele vai ser fundo musical para o resto da minha VIDA.
Há indicativos que Michael morreu depois de mais uma dose de Demerol, um narcótico, um analgésico (algia é dor), medicação do qual ele era dependente, porque ele precisava amaciar a dor constante, a dor de não poder ser ele mesmo; a dor da criança massacrada, da criança amadurecida à força, da criança tirada da sua própria infância. Uma infância que ele tentava resgatar de forma folclórica, comprando com a “dinheirama” que ele possuía, parques da “Terra do São Nunca” – porque há coisas que nunca voltam- e uma busca para se tornar Peter Pan, aquele que nunca cresce e nem envelhece e a fixação de ter a cara da Diana Ross. Tudo isso numa tentativa alucinada de resgatar a própria criança interna, de resgatar a inocência; de ter uma identidade; a nossa maior dor é a sensação/percepção de que desconectamos de nossa criança interna, com o nosso fio da meada. É aquela ponta do durex que sumiu e nessa busca enfiamos até os dentes para reencontrá-la.
Nesse ano de 2009 eu completo trinta anos de formado; e todo esse tempo, acolhendo pessoas que compartilham suas histórias de vida comigo e baseado nas minhas próprias dores existenciais, eu aprendi que a maior BENÇÃO de um ser humano é ser o que se é genuinamente.Ser e ter a si mesmo do jeito que a grande criação projetou, concebeu e criou é o MÁXIMO. É o meu grande sonho e busca de consumo. Sinto que o Michael, nosso querido contemporâneo, também buscava loucamente isso.
Todos nós... A morte desse astro pop, penso, nos levará muito a pensar o que temos feito com nossas crianças. Como nós, adultos tratamos nossa criança interna, de como fomos abusados, tirados de nossas rotas divinas e o que temos feito para nos resgatar, para restaurar nossa originalidade. É necessário inclusive que ampliemos nosso conceito de abuso. Hoje, nessa contemporaneidade, muitas crianças são abusadas de outras formas; como falta de limites, falta de contato com a natureza, excessiva ligações com shoppings, jogos eletrônicos, comidas vagabundas, famílias disfuncionais que impregnam essa criança de falta de afeto, simplicidade, respeito e amor: REFERÊNCIA SADIA.
Michael se foi num dia 25 de junho, em pleno signo de Câncer, o signo da casa, da família, do aconchego, da mãe/pai, do ninho. Que sua alma cansada dessa busca de si, do ninho, da simplicidade que o mundo popstar não conhece, encontre nos braços do grande Criador um colo.
Uma música brasileira linda do Gil-canceriano de 26 de Junho-, que Zizi gravou lindamente, me vem para ninar esse momento: “Ah! Meu amigo, meu herói , oh como dói saber que a ti também corrói a dor da solidão. A força do universo não te deixará, o lume das estrelas te alumiará, na casa do meu coração, pequeno , no canto do seu coração, menino. No canto do meu coração espero, agasallhar-te a ilusão. Oh, meu amigo, meu herói”
De todo meu coração, eu desejo e aspiro que reencontrar consigo mesmo não seja uma ilusão.
Um beijo, Michael!!!!
Hercoles Jaci-Psicólogo clínico-Belo Horizonte-MG (hercoles@uai.com.br)
Apesar de tudo, não entro no mérito do comportamento do homem, fica o reconhecimento ao artista, cuja história, em algum momento no espaço e no tempo, também se entrelaçou com a nossa. Minha adolescência tem muitas e boas recordações do astro que encantava ao deslizar no palco como ninguém. Não só a pobreza e o anonimato, vivenciar o sucesso e a fama também é uma provação e tanto, e pode vir acompanhada de muitas dores e tristezas. Poucos são os astros que atingem a fama sem perder a serenidade. As palavras do Dr. Hercoles foram perfeitas. Uma ótima reflexão!
- Claudia Coutinho -
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