terça-feira, 1 de março de 2011

KINECT: Brasileiro também produz inovação radical!

Para quem não conhece, o Kinect é um novo conceito em jogos, diga-se de passagem, revolucionário. O equipamento, que foi lançado pela Microsoft no final do ano passado, capta os movimentos dos jogadores e os transfere para dentro dos games, sem a necessidade de joystick ou controles.

O conjunto de câmeras do Kinect foi concebido para mapear o jogador e o ambiente em que ele está. Assim, o sistema consegue identificar onde estão braços, pernas e a cabeça do usuário, transferindo seus movimentos para dentro da tela. Todos os menus do console
podem ser acessados com simples gestos, dispensando o uso de controles e botões. Ao ligar o aparelho, imediatamente ele visualiza a sala e o jogador, realizando um pequeno movimento para baixo e para cima. E tem mais, o equipamento possui um sistema de reconhecimento de voz, permitindo controlar a reprodução de vídeos e de músicas, inicialmente nas línguas inglesa, japonesa e espanhola. As demais línguas, incluindo o português brasileiro, serão adicionadas nos próximos meses, durante as atualizações dos softwares.
Mas as novidades não param por ai. Quem assina o invento é Alex Kipman, um cientista brasileiro, natural de Curitiba. Filho do embaixador do Brasil no Haiti, Igor Kipman, Alex já morou em Roma e Miami, antes de se mudar para Nova York, há 15 anos, onde se formou em Engenharia de Softwares pela Rochester Institute of Technology. Fã de videogames desde pequeno, Alex conta que o Kinect nasceu há 3 anos, quando estava passando uns dias na chácara de sua tia, perto de Curitiba. Observando como as pessoas se tornaram escravas da tecnologia dos botões e controles, perguntou-se como seria não depender de nenhum tipo de dispositivo eletrônico. Foi aí que o “Projeto Natal”, primeira denominação do Kinect, face à paixão de Alex pelo Nordeste, começou a nascer. Uma tecnologia onde você é o controle, conforme demonstra o vídeo abaixo:

Mesmo considerando meu limitado conhecimento sobre Engenharia de Softwares, ouso repetir o jargão popular, Kipman atirou no que viu e acertou no que não viu. Penso nas inúmeras aplicações que poderão advir da tecnologia do Kinect. Simulações nas mais variadas áreas do conhecimento; de aulas de medicina, com cirurgias virtuais, a aulas de ginástica; aplicações e testes de técnicas futebolísticas; incrementos de recursos nas vitrines sensoriais de lojas de vestuário, etc. No campo corporativo, imagino como os chamados jogos empresariais poderão ser enriquecidos. E o que dizer da contribuição que os estímulos sensoriais do Kinect poderão trazer para o desenvolvimento cognitivo na área da Psicologia? Aliás, sobre este último, recomendo a leitura do depoimento emocionado de Arilson Karmo no Portalxbox no post intitulado Kinect fez minha mãe chorar.”
Vocês acham que estou exagerando? Então confiram no vídeo abaixo as diversas interações possibilitadas pelo equipamento:

E ainda há quem diga que brasileiro é criativo, mas não inovador. Nos últimos anos, alguns inventos contradizem essa afirmação. Além de Kipman, podemos citar Fernanda Viégas, a carioca que ficou conhecida como a encantadora de dados, com a criação do site colaborativo Many Eyes; Ricardo Ferreira, químico formado pela UNICAMP, que vem atraindo a atenção dos profissionais da Universidade da Califórnia-UCLA, com seu estudo sobre cristais capazes de absorver CO2 da atmosfera; Artur Ávila, matemático carioca, diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica em Paris, e cujas equações, segundo os mais renomados profissionais da área, são verdadeiras obras de arte; Vanessa Vilela, a mineira que criou a marca de cosméticos Kapeh, definida pela ONU como uma empresa com forte senso de responsabilidade social, que usa o café como matéria-prima, fruto de 3 anos de estudos e parcerias com universidades e institutos de pesquisa; Kiko Mistrorigo e Célia Catunda, os brasileiros donos da Produtora TV PinGüim, que faz o desenho Peixonauta, animação que desbancou sucessos tradicionais e é o desenho mais visto do Discovery Kids, hoje exportado para 50 países; Vítor Araújo, o pianista pernambucano, apontado pela Revista Galileu como uma das promessas da música brasileira. Apesar de sua formação erudita, Vítor inova misturando em seus arranjos influências tão diferentes quanto Heitor Villa-Lobos, Johan Sebastian Bach, Luiz Gonzaga e Chico Buarque, que estão em seu CD e DVD de estréiaTOC – Ao Vivo no Teatro Santa Isabel”. Aliás, abro um parêntese para recomendar a magnífica interpretação de Vítor Araújo em "Comptine D'Un Autre Été", do compositor francês Yann Tiersen.

O que há em comum com a maioria desses profissionais, além da nacionalidade brasileira, é o fato de terem que ir para o exterior para desenvolver suas habilidades em toda plenitude. Talvez o problema não esteja no brasileiro, mas sim nas nossas organizações. Estas, sim, precisam ser ágeis no desenvolvimento da cultura para assimilar, reconhecer e investir na inovação. Normas disciplinares, legislações rigorosas, ausência de políticas arrojadas de treinamento e seriedade excessivas podem se transformar em fortes predadoras da criatividade e, conseqüentemente, da capacidade inovativa. Quando o assunto é inovação, não há meio termo. Ou faz, ou não! Inovar exige investimento contínuo em aquisição e disseminação de conhecimentos, pesquisa, treinamento, acesso a tecnologias, abertura de debates, estímulo a atitudes colaborativas e questionamentos constantes, em todos os níveis.

Muitas vezes ideias e projetos fabulosos são rejeitados com argumentos do tipo: “não é o momento”; “não estamos preparados”; “está fora da nossa realidade”; “estamos nos preparando e evoluindo, mas chegaremos lá!”. Resta-nos saber, “” onde? Afinal, como diz a turma jovem, “a fila anda”.

Uma ótima semana a todos!

Claudia Coutinho.