quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Palestras do TEDx como Treinamento em Inovação

A velocidade da informação e o desenvolvimento tecnológico vêm contribuindo para que o ciclo de vida de produtos e serviços seja cada vez menor. Muito além das teorias administrativas que preconizavam a qualidade e a produtividade, nos anos 80 e 90, hoje, fazer mais com menos é um modelo importante, mas insatisfatório, diante das exigências do atual mercado consumidor. Ultrapassando os limites da melhoria contínua, a necessidade que se apresenta é muito mais complexa, pois requer soluções que combinem, simultaneamente, custo baixo e diferenciação. Em outras palavras, coisa boa produzida com custo baixo, conceitos até então entendidos como conflitantes.

No livro INNOVATRIX, os autores Clemente Nóbrega e Adriano R. de Lima ressaltam que, ao optar por um produto/serviço, quatro questões influenciam a decisão do consumidor: funcionalidade, consistência (garantia de que funciona), conveniência (serviços agregados que promovam satisfação, comodidade, etc.) e preço (existem opções mais baratas no mercado?). A maioria dos produtos/serviços disponíveis já ultrapassou as fronteiras da funcionalidade e da consistência. O grande desafio, portanto, é associar conveniência (diferenciação) e preço.
Diante desse contexto, para manter a vitalidade e assegurar a sustentabilidade dos negócios, o mundo corporativo é obrigado a sair de sua zona de conforto e a pensar, continuamente, novas formas de trabalhar seus produtos/serviços e, principalmente, novos modelos de negócios e relacionamento com os clientes. Por isso, nunca se falou tanto em INOVAÇÃO, cujo objetivo principal é a geração de idéias que possibilitem dinheiro novo. Ou seja, agregar ao produto/serviço variáveis atraentes que captem a percepção de valor do consumidor. Mais que funcionalidade e consistência, os consumidores optam por produtos/serviços que lhes proporcionem experiências gratificantes. É necessário adicionar elementos sensoriais ao ambiente, seja através de cores, ambiência, decoração, música, dança, descontração, aromas, etc. O importante é enriquecer a atmosfera. As empresas que captaram essa evolução do consumo conseguiram produzir inovação de valor, com baixo custo.

Vejamos o exemplo do Cirque Du Soleil. Como conseguir desenvolver arte circense de alto valor com custo baixo? Guy Laliberté, fundador do Cirque, sabia do alto custo envolvido no processo tradicional, desde animais (ração, vacinas, domador, veterinário, alojamento, transporte especial) a artistas de grife. Assim, optou por algumas inovações: eliminou os animais, numa época em que os espectadores começavam a não mais tolerar os castigos físicos infligidos pelos domadores; substituiu artistas famosos por talentos de rua dos diversos cantos do mundo; reduziu os números com palhaços e deu lugar a espetáculos de bom gosto e requinte; introduziu elementos estéticos (temas, música, dança); substituiu os bancos de madeira tradicionais por assentos confortáveis. Uma verdadeira revolução do espetáculo!

Outro exemplo que aguça nossos sentidos é a Livraria Cultura. A loja possui um acervo fabuloso (livros, revistas, CDs, DVDs), sem falar no aroma inconfundível no ar; uma cafeteria charmosa que é um convite ao bate-papo com amigos; um elenco de souvenires sugestivos; auditório para eventos; além da programação destinada ao público infantil. Na hora de comprar um livro, impossível resistir aos encantos sensoriais da Cultura.

No caso de produtos, citamos o kit “tênis Nike + iPod”, a parceria, que combina e amplia os elementos de ambos os modelos de negócios, permite criar uma experiência mais enriquecedora para os corredores. O kit é composto por um sensor e um receptor que envia informações da corrida para o Sportband, iPod Nano, iPod Touch ou iPhone. Usando-o nos treinos e provas, pode-se registrar e controlar todas as informações: distância, velocidade, duração e calorias perdidas. Ao término do treino, basta conectar o Sportband ou o Ipod no computador e baixar todas as informações.

Dentro do raciocínio do redesign, vale refletir sobre transformações que podem ser inseridas com o intuito de proporcionar experiências sensoriais aos clientes.
Durante o lançamento do Movimento Empresarial para a Inovação (MEI), realizado no dia 10/09, numa parceria da FIESC com a CNI, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, ressaltou que “o Brasil precisa dobrar o esforço empresarial em inovação, pois esta é a prioridade das prioridades”.

Entretanto, cabe ressaltar que inovação é, acima de tudo, um processo de conexão. O segredo é descobrirmos as lacunas provocadas por situações contraditórias, trabalharmos os recursos disponíveis sobre diversos ângulos, fazer as conexões devidas, identificar soluções inovadoras e realizar. Não podemos ignorar que isso exige, antes, um processo de educação e desbloqueio mental. Como poderemos atingir esse nível de conexão ficando à margem das tecnologias disponíveis, das inúmeras possibilidades de relacionamento com a sociedade e, principalmente, das novas formas de negócios que surgem quase que diariamente? Precisamos entender o contexto para nos situarmos enquanto pessoas, cidadãos, profissionais e, finalmente, enquanto empresa.

Com a finalidade de explorar o tema nas empresas, pode-se adotar as palestras do Programa TEDx, cujo conteúdo é riquíssimo, permitindo avaliar tendências, além de trabalhar, de forma prática e atraente, diversos conceitos como inovação em produtos e serviços, sustentabilidade, responsabilidade social, papel das redes sociais, revisão do modelo de educação, tecnologia, comportamento social, ética nos negócios, inclusão digital, entre outros.

O TED, cuja sigla significa Tecnologia, Entretenimento e Design, surgiu em 1984 como uma conferência anual na Califórnia e já teve entre seus palestrantes Bill Clinton, Paul Simon, Bill Gates, Bono Vox, Al Gore, Michelle Obama e Philippe Starck. Apesar dos mil lugares na platéia, as inscrições esgotam-se um ano antes. O objetivo do evento é divulgar “idéias que merecem ser espalhadas”. Assim, através de uma tribuna livre, os participantes difundem propostas sérias que visam mudar atitudes, vidas e, em última instância, o mundo. Como forma de difundir a prática, os organizadores do TED criaram o programa TEDx, ou seja, eventos locais, e organizados de forma independente, que reúnem pessoas para dividir uma experiência ao estilo TED.

O primeiro evento no Brasil nessa linha foi o TEDxSP, cujo tema central foi “O que o Brasil tem a oferecer ao mundo agora?”, baseado no fato de ser o Brasil um dos países integrantes do BRIC (BRASIL – RÚSSIA – ÍNDIA – CHINA), grupo que vem atraindo a atenção do mundo. Realizada sem fins lucrativos, por isso os ingressos são gratuitos, aliás, uma das premissas estabelecidas pela organização TED, a conferência reuniu mais de 30 pensadores de áreas diversas de conhecimento, desde arte e tecnologia a ciência e negócios, para falar sobre suas melhores idéias. Para manter a objetividade, as palestras são estruturadas com duração de 5 a 18 minutos. “Os palestrantes são orientados a centrar fogo na defesa de apenas uma idéia, sem muito blábláblá.” O diferencial do evento é que as falas mais marcantes vêm exatamente de quem menos esperamos. São pessoas, muitas vezes simples, que ousaram acreditar num ideal e trabalharam para transformá-lo em realidade.
Para ter uma idéia da relevância e dos reflexos do evento, a Revista The President, um lançamento quase secreto do mercado editorial brasileiro, pois se trata de um título tão exclusivo que não é possível ser adquirido em bancas ou livrarias - é distribuído apenas para os três mil presidentes das três mil maiores empresas do Brasil (os vice-presidentes não recebem) – dedicou dez páginas sobre o TED.

As palestras são fascinantes, sem falar no alto nível. Depois de assisti-las, não somos mais os mesmos. Então, porque não trazer a experiência do TEDx para as ações de Treinamento nas Empresas? Os vídeos estão disponíveis e são de domínio público. Após exibição das palestras, é interessante estimular o diálogo entre os participantes, com o intuito de discutir as idéias e pensar cenários dentro do contexto da organização. Afinal, ir ao evento ou assistir aos vídeos tem o mesmo objetivo: acesso ao aprendizado através do conteúdo apresentado pelos palestrantes.
Sobre o programa:


Dentre os momentos interessantes do TEDxSP, destaco a palestra do Ronaldo Lemos, Diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV, com o título “Apropriação Tecnológica pelas Periferias”:


Convém que o programa envolva o maior público possível. A despeito dos papéis desempenhados pelos colaboradores, não sabemos que tipos de experiências são vivenciados por esses fora das dependências da empresa, portanto, desconhecemos que potencial de conexão cada um carrega consigo e, principalmente, que combinações de talentos e habilidades podem estar sendo desperdiçadas. Os insights poderão ser surpreendentes.

Claudia Coutinho

domingo, 5 de setembro de 2010

Branding 3.0


Dentre as oito metas traçadas pela ONU para o milênio, destacam-se a garantia da sustentabilidade ambiental e o estabelecimento de parcerias mundiais para o desenvolvimento. Nesse contexto, é cada vez maior o número de setores que vêm se estruturando para fazer avançar as práticas de responsabilidade social. As experiências demonstram a crescente preocupação dos empresários que desejam a sustentabilidade dos seus negócios no longo prazo.

Um dos grandes motivadores é a pressão que muitas empresas vêm sofrendo do mercado externo para manterem altos padrões de respeito ao meio ambiente e aos direitos humanos, provocando, assim, transformações significativas nos procedimentos de trabalho, caracterizadas por modernização dos equipamentos, inserção tecnológica e práticas menos prejudiciais ao meio-ambiente.

Tais iniciativas são fundamentais para fomentar as exportações ao mesmo tempo em que revela para a sociedade uma gestão mais transparente sobre suas formas de atuação e de suas cadeias produtivas, possibilitando que o consumidor identifique artigos/serviços produzidos com respeito ao meio ambiente e aos direitos humanos.
Cabe destacar que, em diversos países, cresce o número de consumidores preocupados com a sustentabilidade e que optam por comprar produtos que agregam padrões sustentáveis em sua cadeia produtiva. Entretanto, políticas sustentáveis voltadas apenas para melhoraria da imagem não geram credibilidade e nem conquistam o respeito dos clientes. Pesquisas demonstram que, embora as ações de sustentabilidade sejam vistas com bons olhos pela sociedade, poucas empresas são reconhecidas como efetivamente “verdes”. Na maioria das vezes, as ações são interpretadas como meras campanhas de marketing.

A nova lógica de relacionamento com consumidores requer mudança de postura das empresas, exigindo seriedade no tratamento das questões de sustentabilidade, as quais devem ser consideradas no planejamento estratégico, necessitando, sobretudo, estar alinhadas à essência da organização, ao seu negócio principal. Este é o raciocínio que norteia o conceito de Branding 3.0, apresentado por Fred Gelli, Diretor da Tátil Design, vídeo abaixo.

Claudia Coutinho