segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Violinista do Metrô por Martha Medeiros


Aconteceu em janeiro. O jornal Washington Post convidou um dos maiores violinistas do mundo, Joshua Bell, para tocar numa estação de metrô da capital americana a fim de testar a reação dos transeuntes. Desafio aceito, lá foi Bell de jeans e camiseta às oito da manhã, o horário mais movimentado da estação, para tocar no seu Stradivarius de 1713 (avaliado em mais de US$ 3 milhões) melodias de Bach e Schubert.



Passaram por ele 1.097 pessoas. Sete pararam alguns minutos para ouvi-lo. 27 largaram algumas moedas. E uma única mulher o reconheceu, porque havia estado em um de seus concertos, cujo valor médio do ingresso é US$ 100. Todos os outros usuários do metrô estavam com pressa demais para perceber que ali, a dois metros de distância, tocava um instrumentista clássico respeitado internacionalmente.


Não me surpreende. Vasos da dinastia Ching, de valor incalculável, seriam considerados quinquilharias se misturados a quaisquer outros numa feira de artesanato ao ar livre. Uma jóia correria risco de ser ignorada se fosse exposta numa lojinha de bijuterias, e ninguém pagaria mais de R$ 40 por uma escultura do mestre Aleijadinho que estivesse misturada a anjos de gesso vendidos em beira de estrada. Desinformados, raramente conseguimos destacar o raro do medíocre.


Esta história do violinista demonstra que não estamos preparados para a beleza pura: é preciso um mínimo de conhecimento para valorizá-la. E demonstra também que temos sido treinados para gostar do que todo mundo conhece. Se uma atriz é muito comentada, se uma peça é muito badalada, se uma música é muito tocada no rádio, estabelece-se que elas são um sucesso e ninguém questiona. São consumidas mais pela insistência do que pela competência, enquanto que competentes sem holofotes passam despercebidos.


Gostaria muito de ter circulado pela estação de metrô em que tocava Joshua Bell. Não por admirá-lo: pra ser franca, nunca ouvi falar deste cara. O que eu queria era testar minha capacidade de encantamento sem estímulo prévio. Se ainda consigo destacar o raro sem que ninguém o anuncie. Tenho a impressão de que eu pararia para escutá-lo, mas talvez eu esteja sendo otimista. Vai ver eu também passaria apressada, sem me dar conta do tamanho do meu atraso.

Martha Medeiros


A cena descrita por Martha...

5 comentários:

  1. O que tem valor é o conhecimento. Isso é o mais importante. Se as pessoas não tem conhecimento não conseguem aproveitar a boa música, a pintura, teatro e etc
    Não é a toa que grandes compositores, quando vivos eram apenas mais um, com o passar dos anos o povo evoluiu e passou a valorizar o trabalho deles devido ao ganho de conhecimento.
    Essas pessoas não sabem diferenciar um violino de "raça" de um violino de duzentos reais. Não é tão simples assim.
    O próprio Stradivarius quando vivo não vendia seus instrumentos por esse preço que vale hoje :)

    PS: queria saber colocar um link aqui mas não tem jeito, a imagem que coloquei no outro post ficou uma droga :(

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  2. Conhecia já essa notícia e tenho pra mim, na verdade, uma interpretação diferente da sua.

    Acho que vemos a beleza sim, em muitas coisas, porém dá-se valor demais a certas coisas que não são assim tão especiais.

    Paga-se fortunas por obras de arte que, com exceção de certos significados históricos, não são nada demais e pouco acrescentam.

    Além de que, cada coisa tem sua hora e lugar... apesar de ser bonito ver a espontaneidade da arte assim num lugar como o metrô, as pessoas realmente tem mais o que fazer da vida do que ficar olhando não sei quantos artistas de rua se apresentando, sejam eles mestres ou amadores.

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  3. ENDOECONOMIA - digitar esta palavra no google. Está tudo lá, explicadinho e a cores. Meu violino e minha música.

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  4. Penso eu,na minha vã ignorância, que nem tanto ao mar nem tanto à terra. Quando o artista se propõe a fazer uma apresentação em público naturalmente está ou deveria estar preparado para inúmeras reações,afinal não é um público selecionado. O lugar ou hora é dos passantes. Eu mesma muitas vezes não pude parar, embora estivesse adorando; porque tinha que obedecer minhas responsabilidades! Há o momento oportuno para as pessoas comuns que cumprem seus horários poderem assistir, e tenho certeza que, eu mesma seria uma delas, que por falta de condição se limitam a outros entretenimentos. e Porém nem todos orçamentos são possíveis de sofrer empreendimentos de 100 dólares. De repente pode haver uma linda troca do público fiel capaz de absorver o trabalho do artista de acordo com sua possibilidade. Ao invés de selecionar público, porque não reeducarmos à todos. Tenho certeza que os humildes tem tanta sensibilidade quanto qualquer outro. Apenas lhes faltam as mesmas oportunidades. Grata pela oportunidade de mostrar o que penso. Elisa A G

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